Abada-Capoeira DC

Brazilian Arts Center


 

No navio negreiro (Brucutu e Magôo)

 

No navio negreiro

No tempo da escravidão

Seguia sem rumo o negro

Sem rumo o seu coração

No canavial

Negro era o carro forte

Entre a vida e a morte

Negro era a solidão

Hoje negro é vida

Negro é luz é um talento

Mas é que em certos momentos

Sinto em seu peito uma dor

Pra tentar esquecer

Das angustias do passado

Daquele rosto marcado

Faz meu corpo enfraquecer

Mas algo

Dentro de mim é mais forte

Me conduz além da morte

E guia meu coração

Sinto em meu peito

A força da capoeira

Essa arte brasileira

Luta de libertação

Por isso

Quando eu toco um berimbau

Sinto arrepiar a alma

Sinto a mente mais calma

Minha dor se vai então

Sinto arrepiar a alma

Sinto a mente mais calma

Minha dor se vai então

Camarada...

 

Ê viva meu Deus 

 

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Totonho maré (Esquilo)

 

Ê maré

O ô maré

 

     Ê maré

     O ô maré

 

Totonho de maré

é Capoeira

Totonho de maré

é da Bahia

Ê maré

O ô maré

 

Quando você for a Bahia

Pra buscar o seu axé

Lembre de Mestre Bimba

E de Totonho da maré

Ê maré

O ô maré

 

Nas rodas ddo cais do porto

Ele mostrava o seu valor

Era um grande capoeira

E também estivador

Ê maré

O ô maré

 

Revirando as lembranças

As memórias do passado

Recordei um capoeira

Que poucos estão lembrados

Ê maré

O ô maré

 

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Por que será? (Boa Voz)

 

Por que será,

por que será?

Que hoje o negro

não veio trabalhar

 

     Por que será,

     por que será?

     Que hoje o negro

     não veio trabalhar

 

Já correu noticia

Houve morte em Palmares

Morreu um negro

chamado Gangazumba

Já correu noticia

Houve morte em Palmares

Mataram um negro

chamado Gangazumba

Por que será

 

Naquele tempo

não existia a princesa

Não havia pão na mesa

Só tinha o canavial 

Era o suor,

era o sangue derramado

Era o trabalho do negro

Dia e noite sem parar

Por que será

 

E hoje em dia

Depois do canavial

Tem relógio de ponto

Que não para de marcar

E se o negro tá doente

E não consegue chegar

Seu patrão ou sinhozinho

Continua a perguntar

Por que será

 

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Vivência (Mestre Camisa)

 

A mulher de língua grande

A mulher da língua grande

E galo que não tem espora

Um fala da vida alheia

O outro canta fora de hora

Galo velho quando canta

Avisa que está na hora

Tropeiro que acorda tarde

Pega o burro na espora

Caçador quando se perde

É coisa do caipora

O cabra do sangue quente

Pra briga não escolhe hora

Quando vê a coisa feia

Na hora não se apavora

Quem sabe pega com jeito

Quem não sabe pega na tora

Vivo aprendendo nessa vida

O mundo é minha escola

Camaradinha...

 

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Eu queria morar na Bahia (Amâncio)

 

Eu queria morar na Bahia

Eu queria ir pra São Salvador

 

     Eu queria morar na Bahia

     Eu queria ir pra São Salvador

 

Ô Bahia

terra de mandinga e Candoblé

Água de côco,

cocada baiana e acarajé

ô Bahia

 

     Eu queria morar na Bahia

     Eu queria ir pra São Salvador

     Eu queria morar na Bahia

     Eu queria ir pra São Salvador

 

Caravelas, Boipeba,

Itacaré e Corumbau

Mercado modelo,

rodas de Capoeira e berimbau,

ô Bahia

 

Amaralina, Pelourinho

e Abaeté

Jogo ligeiro

nesta arte de bater com o pé

ô Bahia

 

Mestre Bimba, Pastinha,

Besouro e Aberrê

Cobrinha Verde,

João Grande, João Pequeno

e Mucungê

ô Bahia

 

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Meu gunga (Boa Voz)

 

Eu já vi cantar de tudo

Nas rodas de capoeira

Louvação pros velhos Mestres

E até pra quem morreu

Do pandeiro e do atabaque

Do ganzá e do agogô

Eu só não vim falar do dia em

Que meu gunga quebrou

 

     Cadê meu gunga que você

     me prometeu

 

O Iaiá cadê meu gunga que

você  me prometeu

 

Tem sempre um cabra na Roda

Que é pra tomar conta disso

Troca arame, curva verga

De beriba ou de caniço

Gunga veio do Kikongo

Me disseram um um tempo atrás

Dizem que é pessoa velha

Pra mim o meu gunga é muito mais

 

Pode ter bom mandigueiro

Cantador no meu terreiro

Pouco importa camarada

Meu gunga fala primeiro

Mais bonito do que a iúna

E o canto do sabiá

Me perdoa Deus do Céu

É o meu gunga a tocar

 

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Um menino (Cobra)

 

História da capoeira

Você já ouviu contar

Mas existem aquelas

Que você exita em acreditar

Eu lhe digo que lá da Bahia

Saiu um menino sem nada levar

Chegando aos pés do Redentor

Mostrou como o mestre soube lhe ensinar

O vento bateu no peito

O rio faz seu leito descendo pro mar

Foi visto como um vagabundo

Hoje corre o mundo com seu abadá

Não esperemos sua morte

Pra numa cantiga lhe homenagear

Pois visto que seu corpo durma

Jamais sua luz deixará de brilhar

 

Auê mandingueiro

É seu amigo quem lhe avisa

 

Auê mandingueiro

Vida longa pra Camisa

 

Auê mandingueiro

É seu amigo quem lhe avisa

 

Auê mandingueiro

Essa cantiga é pra Mestre Camisa...

 

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Me leva pra Bahia (Duende)

 

Ê me leva na Bahia

Ê leva na Bahia

 

     Ê me leva na Bahia

     Ê leva na Bahia

 

Vou conhecer

a Fazenda Estiva

Na terra de Jacobina

O meu mestre veio de lá

Olha eu vou na Bahia

 

Côco mironga

Na Bahia chama dendê

Dá o tempero no caruru

E também no vatapá

Olha eu vou na Bahia

 

A casa de pedra

Que foi cativeiro de escravo

Onde o navio negreiro

Chegava a beira do mar

Olha eu vou na Bahia

 

Lá tem macumba

No pé do iroco velho

Na casa de Pai Xangô

O axé Opô Afonjá

Olha eu vou na Bahia

 

Minha Bahia

Berço da cultura brasileira

É terra do Mestre Bimba

E também da capoeira

Olha eu vou na Bahia

 

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Lição de capoeira (Mestre Camisa e Esquilo)

 

Neste mundo de meu Deus

Neste mundo de meu Deus

Só vejo ingratidão

Amigo traindo amigo

Que um dia lhe estendeu a mão

Mas o mundo dá muitas voltas

e das  voltas vem a lição

E hoje quem está por cima

Amanhã, pode estar no chão

Oi sacode a poeira

Levanta do chão

Oi jogue capoeira

Conforme a razão

 

     Oi sacode a poeira

     Levanta do chão

     Oi jogue capoeira

     Conforme a razão

 

A vida tem dessas coisa

Que magoa o coração

Da maldade de um falso amigo

Eu fiz essa canção

Oi sacode a poeira

Levanta do chão

Oi jogue capoeira

Conforme a razão

 

Vou tornar a te dizer

Pois não guardo ingratidão

Se um dia você precisar

Ainda te dou a mão

Oi sacode a poeira

Levanta do chão

Oi jogue capoeira

Conforme a razão

 

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Menino da Pero Vaz (Boa Voz)

 

Eu mandei

Um recado lá pro céu

Eu mandei

Um recado lá pro céu

Pedindo pra Nosso Senhor

Que olhasse ao chegar

Que recebesse com glória

Nosso Mestre Waldemar

A roda deve estar pronta

Pra quando ele chegar

Dê lhe um berimbau vozeiro

E por favor, deixe-o cantar

Diga lá menino velho

Como lá na Pero Vaz

Na Bahia de outrora

Dos seus tempos de rapaz

Lá se foi Pastinha e Bimba

E Besouro Mangangá

Deus achou que era tempo

De levar seu Waldemar

Atenção capoeiristas

Não é hora pra chorar

Feche os olhos e imaginem

A roda vai começar,

Camará

 

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Jogo da Bassúla (Cascão)

 

Lá na ilha de Luanda

Lá na ilha de Luanda

Pescador já vem do mar

Vem trazendo bom pescado

Graças a velha Kianda

Nossa Rainha do Mar

 

No jogo da Bassúla

Negro vai te derrubar

 

Cuidado menino

pescador já vem do mar

 

     No jogo da Bassúla

     Negro vai te derrubar

 

Pescador tem tradição para

seu filho ensinar

 

Vem trazendo bom pescado

Para um mufete preparar

  

No tronco do imbondeiro

faz se casa pra morar

 

No jogo da capoeira

A Bassúla eu vou botar

 

Iemanjá velha Kianda

Nossa Rainha do Mar

 

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Eu vou (Amâncio)

 

Hoje eu vou,

Vou jogar capoeira, eu vou

Hoje eu vou,

Vou jogar capoeira, eu vou

 

Eu vou, vou jogar capoeira

Eu vou tocar meu berimbau

 

     Eu vou, vou jogar capoeira

     Eu vou tocar meu berimbau

 

Este jogo

que é mandinga e é malícia

É luta, que também é mortal

Mas eu vou

 

Angola

e a Cavalaria

Iúna, São Bento Regional

Mas eu vou 

 

Eu vou dançar

ao som de um Instrumento

todo feito de arame e de pau

Mas eu vou

 

Eu já

rodei o mundo inteiro

Mas nunca vi nada assim igual

Mas eu vou

 

Rabo de arraia,

meia lua, martelo e rolê

Faca de ponta, navalha cortando é pra valer

Mas eu vou

 

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A roda vai começar (Brucutu)

 

Subiu ao céu Zumbi

Aberrê e Paraná

Também subiu Mestre Bimba

e Besouro Mangangá

Lá no céu tem capoeira

Uma estrela me falou

Quando ronca a trovoada

É que a roda começou

Joga Besouro, Zumbi

Mestre Bimba e Paraná

a roda estava animada

Todo mundo a espiar

Mas Pastinha aqui na terra

Estava cego a lamentar

Levantou a mão e disse:

Ah meu Deus!

Eu também quero jogar

Subiu aos céus Pastinha

Começou a trovejar

No céu um clarão mais forte

o iaiá

a roda vai começar

camarada...

 

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Planalto Central (Juazeiro)

 

No Centro Oeste já tem capoeira

O Mestre Bimba foi lá e ensinou

Aquela gente a passar rasteira

Dar cabeçada, martelo voador

 

No planalto central

No planalto central

Foi lá mestre Bimba

Ensinar a regional

 

     No planalto central

     No planalto central

 

Foi lá Mestre Bimba

Ensinar a regional

 

O Mestre Bimba foi um grande gênio

Foi o criador do estilo regional

É uma verdadeira pedra preciosa

Que hoje brilha no Brasil Central

 

Eu tive um sonho que eu vi capoeira

Nas praias lindas de meu Araguaia

jaguarité plantava bananeira

Corimatã dando rabo de arraia

 

O boi guanú é uma fera selvagem

Que corre livre pelo cerradão

Tem lobo Guará e tem gato do mato

A famosa andira que é um morcegão

 

Na minha terra têm grandes chapadas

Rios cristalinos, lindos pantanais.

E a capoeira rompeu a fronteira

E já chegou lá no Paraguai

 

Até nas aldeias capoeira cresce

Os índios Xavantes gostaram demais

E agora aqui nossa gente agradece

A Mestre Bimba que veio pra Goiás

 

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Faca de Ponta (Esquilo)

 

Faca de ponta quer lhe furar

Cuidado moço que o nego quer lhe pegar

 

     Faca de ponta quer lhe furar

     Cuidado moço que o nego quer lhe pegar

 

Esse nego mandingueiro

Ta lhe armando uma emboscada

Espera você passar

Sozinho pela estrada

Escondido numa moita

Com sua faca amolada

 

No toque do berimbau

O jogo é a lei do cão

O negro levou rasteira

Na roda caiu no chão

Agora jura vingança

Com sua faca na mão

 

Berimbau tocou São Bento

Hoje o jogo é pra valer

Se você não der no negro

O negro dá em você

 

Mas você é capoeira

E tem que usar mandinga

No molejo da esquiva

Pra que a faca não te atinja

 

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