Abada-Capoeira DC

Brazilian Arts Center


 

 

 

Lenda viva (Boa Voz - adapt. das cantigas de lavadeira)

 

Mandei caiá meu sobrado

Mandei, mandei, mandei

Mandei caiá de amarelo

Caiei, caiei, caiei

Amarelo que lembra dourado

Dourado, que é meu berimbau

Dourado, de cordão de ouro

Besouro, besouro, besouro

Para quem nunca ouviu falar

Pra aqueles que dizem: é lenda!

Pois saibam que besouro preto

Viveu, viveu e morreu

Pras bandas de Maracangalha

Sem temer a inimigo nenhum

Não valeu, seu corpo fechado

Pras facas de aticum

Mas mesmo depois de morto

Entre uma e outra cantiga

Besouro vai sempre viver

Enquanto existir mandinga

Mandei caiá meu sobrado

Mandei, mandei, mandei

Mandei caiá de amarelo

Caiei, caiei, caie

Iê, viva meu Deus

Iê, viva meu mestre

Iê, salve Besouro

 

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Lamento do berimbau (Pelezinho GO)

 

Berimbau chorou

Chorou de lágrima

Chorou de lágrima

Chorou de lágrima

 

     Berimbau chorou

     Chorou de lágrima

     Chorou de lágrima

     Chorou de lágrima

 

Berimbau chorou de lágrima

Por causa de uma nação

Só Deus sabe o sofrimento

Que o negro teve na escravidão

Berimbau chorou

 

Negro deu a volta ao mundo

No berimbau se agachou

Berimbau viu tanto sofrimento

Que até o arame se quebrou

Berimbau chorou

 

Amargura e tristeza

Na senzala de sinhá

Gunga, médio e viola

Estavam ali pra consolar

Berimbau chorou

 

Berimbau chorou de lágrima

Uma lágrima sentida

Adeus mano velho

É hora da despedida

Berimbau chorou

 

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Livre arbítrio (Boa Voz)

 

Só levo pra capoeira

Quem quiser comigo ir

Só levo pra capoeira

Quem quiser comigo ir

 

     Só levo pra capoeira

     Quem quiser comigo ir

     Só levo pra capoeira

     Quem quiser comigo ir

 

Já to nela há tanto tempo

Que eu já nem me lembro mais

Tocando meu berimbau

E cantando eu sigo em paz

 

Meu filho disse outro dia

Ô meu pai me leva lá

Quero ouvir esquindum-dum

Que tu chama berimbau

 

Obrigar não faço não

Mas eu levo ele pra ver

E se for de coração

Capoeira ele vai ser

 

Capoeira é esporte

Saúde e filosofia

Se eu continuar falando

Converso pra mais de dia

 

Só quem nasce capoeira

Sabe a falta que ela faz

Já tô ficando velhinho

Cada dia gosto mais

 

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Pau que nasce torto (papagaio velho) - (Boa Voz)

 

Papagaio velho não aprende a falar

Aprendeu errado, é difícil endireitar

 

     Papagaio velho não aprende a falar

     Aprendeu errado, é difícil endireitar

 

A meia lua de frente

Tem que encaixar o quadril

Capriche no movimento

Já que todo mundo viu

 

Olha o jeito dessa armada

Ta igual de bailarino

Ainda fica me olhando

Veja se eu estou sorrindo

 

Capoeira sem esquiva

É carro sem direção

Parte pra cima do golpe

Sem saber qual a razão

 

Olha o pau que nasce torto

Tarde ou nunca se endireita

Eu não acredito nisso

Se treinar você se ajeita

 

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Peleja do riachão (DP)

 

Riachão tava cantando, ai meu Deus

Na cidade do Açu

Quando apareceu um negro

Quando apareceu um negro

Da espécie de urubu

Com uma camisa de sola ai meu Deus

E calça de couro cru

Beiço grosso e virado ai meu Deus

Como a sola de um chinelo

Um olho muito encarnado

Um olho muito encarnado)

O outro bastante amarelo

Convidou a Riachão ai meu Deus

Pra vir cantar martelo

Riachão lhe respondeu

Eu aqui não to cantando oi iaiá

Com negro desconhecido

Você pode ser cativo oi iaiá

E ta por ai fugido

Isso é dar fala nambú

Isso é dar fala nambú

Puxa já negro enxerido

Eu sou livre como o vento oi iaiá

A minha linhagem é nobre

Nasci dentro da nobreza oi iaiá

Não nasci na raça pobre

Você nega por que quer

Está conhecido demais

Se você não for cativo oi iaiá

Me diga o que você faz

Seja livre ou seja escravo

Eu quero cantar martelo

Afine sua viola

Vamos entrar em duelo

Só com a minha presença

O senhor já tá amarelo,

Camaradinha

Viva meu Deus

 

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O sabiá (Boa Voz)

 

Planta milho sinhá que eu colho

Planta milho sinhá que eu colho

 

     Planta milho sinhá que eu colho

 

Planta milho sinhá que eu colho

 

Cantava meu sabiá

 

No canto da capoeira

 

Tanta vez ouvi falar

 

Da sabiá laranjeira

 

E hoje ouço seu cantar

 

Quantas vezes na Ribeira

 

Lá na tenda de sinhá

 

Cantador falava assim

 

Como canta o sabiá

 

Meu pai me disse menino

 

Não me mate o sabiá

 

Quem mata o que não se come

 

Não perde por esperar

 

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Berimbau viola (Macaco preto)

 

Berimbau viola

Berimbau viola

Por que será

Que a viola chora

 

     Berimbau viola

     Berimbau viola

     Por que será

     Que a viola chora

 

Será saudade

Da Cabinda de Luanda

Que o navio deixou pra trás

Nas águas da velha Kianda

 

Chora lembrando

Dos tempos do cativeiro

Dos negros acorrentados

Dentro do navio negreiro

 

Gunga tá velho

Mas ainda conta história

Viola chora

Lembrando dos tempos de outrora

 

Chora por Bimba

Pastinha e Valdemar

Grandes mestres de verdade

Que de saudade

viola põe-se a chorar

 

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Vadiação (Boa Voz)

 

Chama ioiô, chama iai,

Berimbau me chama

Eu vou

Vadiar

 

     Chama ioiô, chama iai,

     Berimbau me chama

     Eu vou

     Vadiar

 

Nem adianta

Tu tentar me segurar

Corrente já foi quebrada

E hoje eu quero é vadiar

 

Dizia a lei

É proibido vadiar

Mas eu sentia no peito

A vontade de jogar

 

Andei, vaguei

Sem saber no que pensar

Sempre fui trabalhador

Mas também capoeira

 

De tocar meu berimbau

E uma cantiga levar

Mostrando meus sentimentos

Sem ninguém prejudicar

 

O bem e o mal

Nunca andaram de mãos dadas

Não escolhem preto nem branco

Ao findar esta jornada

 

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Baleiro (Boa Voz)

 

Baleiro o que vende ai?

Pipoca e amendoim

Baleiro o que vende ai?

Pipoca e amendoim

 

     Baleiro o que vende ai?

     Pipoca e amendoim

     Baleiro o que vende ai?

     Pipoca e amendoim

 

Sou baleiro sim sinhô

Mas não sou qualquer um não

Vendi bala na Bahia

Nas festas da Conceição

 

O que esses olhos já viram

Nas rodas de capoeira

Se eu fosse lhes contar

Levava uma vida inteira

 

Vi um negro alto e forte

Com seu berimbau na mão

Escutei falar: é Bimba!

Igual a esse não tem não

 

Vi um velhote baixinho

Com toda autoridade

Levando na cantoria

Um tal lá da Liberdade

 

Tinha mais gente chegando

E até uns que dava medo

Mas eu ficava olhando

E aprendendo seus segredos

 

Um dia cheguei mais perto

E um deles olhou pra mim

Mas antes que eu me assustasse

Baleiro o que vende ai?

 

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Coisa mandada (Boa Voz)

 

Isso é coisa mandada

Isso é coisa mandada

 

     Isso é coisa mandada

     Isso é coisa mandada

 

Eu sempre andei de noite

Quanta vez na madrugada

No meio da malandragem

Nunca me aconteceu nada

De repente tudo muda

Deve ser coisa mandada

 

     Isso é coisa mandada

     Isso é coisa mandada

     Isso é coisa mandada

     Isso é coisa mandada

 

Mateiro velho nasci

Andei na mata fechada

Serpente corre de mim

E até onça pintada

 

De repente nego véio

Olha o que me aconteceu

Tudo que andava certo

Hoje desapareceu

 

Olha lá meu gunga velho

Companheiro de estrada

Quando fui ver outro dia

Verga e cabaça quebrada

 

Eu nunca fui pára raio

E nunca me pegou nada

Maldade passa de longe

Tenho uma sorte danada

 

Sempre tive fé em Deus

E nas coisas mais sagradas

Me valha Senhor Jesus

Derruba a coisa mandada

 

Sai pra lá coisa ruim

Não cruza na minha estrada

Cuidado sou capoeira

Vacilou tomou pernada

 

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Acende a luz (Boa Voz)

 

Acende a luz crioula

Pro terreiro clarear

 

     Acende a luz crioula

 

Pro terreiro clarear

 

Traz pra fora o candeeiro

 

Que a roda vai começar

 

Hoje é noite sem lua

 

E os cabras já vão chegar

 

Hoje é dia de festa

 

Capoeira no arraial

 

Lá vem Besouro e Zumbi

 

Seu Traíra e Paraná

 

Tem uns pretos batuqueiro

 

Que vieram pra cantar

 

De cantador pra cantador

 

Já lá vem seu Valdemar

 

Corre lá pega meu gunga

 

Pra Mestre Bimba tocar

 

Nega traz meu candeeiro

 

E não deixa apagar

 

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Mundo enganador (DP)

 

Todo mundo quer ser bom

Todo mundo quer ser bom

Mas ruim ninguém quer ser

Todo mundo quer matar

Mas ninguém não quer morrer

Já não sei como se vive

Aí Meu Deus

Nesse mundo enganador

Fala muito é falador

Quem fala pouco é manhoso

Come muito é guloso

Come pouco é sovino

Se bater é desordeiro

Ó meu Deus

Se apanha ele é mofino

Trabalho tem marimbondo

Fazer casa no capim

Vem o vento leva ela

Ai meu Deus

Marimbondo leva fim

Caveira quem te matou

Ai meu Deus

Foi a língua meu senhor

Eu sempre te dei conselho

Tu pensava ser ruim

E eu sempre lhe avisando

Colega velho

Inveja matou Caim,

camará

Iê viva meu Deus

Iê a capoeira

 

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Graúna (Boa Voz)

 

Graúna, graúna, onde vai você?

Onde vai, onde vai você

 

     Graúna, graúna, onde vai você?

 

Grauna, onde vai você?

 

Vou cantar lá no ipê

 

Onde vai, graúna, onde vai você

 

Eu ia pelo caminho

 

Quando ouvi o seu cantar

 

Não me pergunte porque

 

Comecei arrepiar

 

Me lembrei da capoeira

 

E dos nossos ancestrais

 

De repente fez silêncio

 

Ela parou de cantar

 

A ave bateu asa

 

Foi cantar noutro lugar

 

Onde vai graúna, onde vai você

 

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Eu vi relampear (Boa Voz)

 

Eu vi relampear

O iaiá, eu vi relampear.

 

     Eu vi relampear

 

Na roda relampear

 

Sem barulho de trovão

 

Pé passou perto demais

 

Se não esquiva o cabra cai

 

Navalho riscou ligeiro

 

Faísca brilhou no ar

 

Iaiá lá vem cruzo de carreiro

 

Golpe que vale lembrar

 

Ô dindinha meu joelho

 

Cuidado pra não quebrar

 

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A moça do sobrado (Boa Voz)

 

A moça do sobrado me chamou

Venha ver, capoeira meu sinhô

 

     A moça do sobrado me chamou

     Venha ver, capoeira meu sinhô

 

Sinhá mocinha

Gostava de aparecer

Nos domingos de tardinha

Para a capoeira ver

 

Ficava olhando

Admirando encantada

Sem entender muito bem

Os negros dando pernadas

 

A energia,

Que da roda ia saindo

Mexia com os sentimentos

De quem tava vendo e ouvindo

 

Muitas das vezes

Dali jogava dinheiro

Premiando o jogador

Que mais gostasse de ver

 

Chegava o pai

Sinhá moça disfarçava

Dizia será que um dia

Posso descer na calçada?

 

Caindo a noite

A negrada ia embora

Sinhá ficava esperando

Quem sabe uma outra hora?

 

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A carta de Besouro (Boa Voz)

 

Oi, quem mandou levar

Essa carta pra sinhá!

 

     Quem mandou levar

 

Óia lá Besouro preto

 

No jogo da emboscada

 

Vão tentar lhe enganar

 

Nego não sabia ler

 

E a carta foi levar

 

Mas o que tava lá dentro

 

Era coisa de matar

 

E se for pra S. Caetano

 

Cuidado pra não quebrar

 

Pois pra lá não tem mais jeito

 

Cuidado seu Mangagá

 

Vai virar toco de pau

 

Ou inseto pra escapar?

 

Se caiu na armadilha

 

Dê seu jeito de escapar

 

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Abalou cachoeira (DP)


Abalou Cachoeira abalou
Abalou deixa abalar

Abalou Cachoeira abalou

Mas abalou deixa abalar

Oi abalou, abalou deixa abalar

Oi abalou em Cachoeira

A invasão dos Holandeses

Abalou deixa abalar

No dia que eu amanheço

Dentro de Itabaianinha

Homem não monta cavaco

Mulher não deita galinha

As freiras que tão rezando

Se esquecem da ladainha

Quem quiser saber meu nome

Eu me chamo louça fina

Cuidado pra não quebrar

Casa de palha é palhoça

Se eu fosse fogo queimava

Toda mulher ciumenta

Se eu fosse a morte matava

 

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Chora menino (DP)

 

Oi chora menino

 

     Nhé, nhé, nhé

 

Menino chorou

 

Cala a boca menino

 

Menino chorão

 

Ô chora menino

 

Pó que não mamou

 

Menino malvado

 

Menino chorou

 

Chora menino

 

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